sábado, 23 de agosto de 2008

Poema nº21: Ah se eu pudesse

Ah se eu pudesse calar meu interior
E saltar do abismo sem sentir dor
Ah se eu pudesse esquecer tudo
Não faria da vida um singelo miúdo

Se eu pudesse congelar o tempo
O faria sem constrangimento
Se eu pudesse voltar ao passado
Enterraria meus fantasmas, um a um
Acertaria meus erros
Mudaria tudo o que pudesse mudar
Mas não posso!

O sentimento é uma brasa fria
Carregada de tortura e alegria
Como uma chuva fina em dia de Sol
Com o arco-íris a contemplar
A luz e os cristais

E no pêndulo das emoções
As hortaliças a balançar com vento
Mostram o caminho articulado
Dentre as montanhas sinuosas
Mostram-me que o que aconteceu,
Aconteceu, e não tem volta
E que tudo passa e prossegue

Ah se eu pudesse parar o vento...

Ass: Marcel Villalobo

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Poema nº20: Críticas e Suspiros

I

Uma sensação de alivio pairou no ar
No paiol dos sentimentos vivos
Passou como um furacão veloz
Deixando marcas profundas em terra
Queimadas como ferro em brasa
Atirando a concepção de lado

Um pássaro comedido voa
O farfalhar nobre de suas asas
Fazem o feito funesto e fatídico
Numa feitoria de reis e nobres
Num paladar de sangue e vinho
Queimando a vida como se fosse o nada
Jogando em latas a inocência perdida

II

Vela que ilumina este olhar
Falsidade e calunia
Enganação e pura futilidade
Na sua voz de uma garota
Que por ser fera, foi escondida
Pela bela, que por representação
Transmitiu a mesma mensagem de paz
Ainda que de forma estúpida e difamatória

Representa-se o mundo em forma de covardia
Em meio a uma pacífica retórica
Surge a turbulência e a prepotência
De algo que sequer podemos observar
Pois o abafar dos causos nos passa
A nobre sensação da beleza e do puro
Nos olhos de quem não quer enxergar
O outro lado da rosa vermelha

III

Céu claro e límpido de luar
A brisa morna anuncia a chegada
Dos novos tempos, fugaz percepção
Eles trarão a primavera das flores
E com elas desabrocharão os sentimentos
Verdadeiros e nobres
Feito dos povos, um manifesto mundial
Totalmente unilateral, e a junção
Do tédio roto e das pétalas amarelas
De um Ipê numa beira roça
Fará a tração assimétrica
Do tempo do amor

IV

Como é bela a rosa do tempo

Ass: Marcel Villalobo

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Poema nº19: Sem futuro, não há o amanhã

Páginas viradas de um livro vazio
Não movem moinhos, não mudam o movimento
São uma miragem mirabolante
Ternura macia, maciça
Hei de executar essa discordância
Nascidos ao véu, há mister gritar:
Sem futuro, não há o amanhã.

No vazio do vácuo, vernáculo;
Vedes as videiras verdes
Nas vozes vazias vidrando
O som de um violão violando
O pacífico vale vertiginoso
E na sua cabeça, pairará o pensamento:
Sem futuro, não há o amanhã.

Som das trombetas trovoando
No trovadorismo ao som do trovão
O trotar dos cavalos tinhosos
Em imensa treva sonora
Trazidos na imensidão do tempo
E terás um dia de dizer:
Sem futuro, não há o amanhã.

Sem amanhã, não há futuro...

Ass: Marcel Villalobo

Notas:
Me inspirei em duas coisas nesse poema: na música "Leave no Trace", do Anathema e nos poemas da época do Simbolismo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Poema n° 18: Contos e Síntese

I - Páginas de um jornal nunca lido

As palavras novas da manhã
Gravadas num jornal qualquer
Levado pela brisa do outono
Junto ao lado das ilusões

II - Solidão e saudades

Saudade é nada mais que solidão
Com companhia de alguém distante
As cartas que rasguei
Continham pedaços do meu coração

III - Manipulação

No alvorecer do novo dia
Perdido vendo TV
Vendendo minha alma ao diabo
Precocemente iludido
Entre a fumaça de um charuto
Que entra pela porta aberta
Junto do ar frio do inverno

IV - Memórias de alguém que morreu

Na página amarela de um diário
Existem contos grotescos
Assinados por alguém
Que perdeu a vida na guerra
Mas não perdeu sua alma por lutar
Perdeu apenas a vontade de viver
E de lutar pelo que é dos outros

V - O Bêbado

Solitário e triste, o bêbado
No frio de junho, embaixo da ponte
Bebendo para esquecer suas ilusões
Sua vida miserável de pedinte
Sua alma perdida numa garrafa de pinga
E toda a vida sofrida
Que ninguém sabe sequer especular sobre

VI - O suicídio daquele que nunca amou

Na janela do último andar do edifício
Um homem olha para baixo
E vê toda a sua vida por ali passando
A sua infância pobre e sofrida
Sua adolescência conturbada, regada a entorpecentes
E vê que jamais se tornou homem
Pois jamais conseguiu amar alguém
E jamais foi amado
Por nunca pensar em si mesmo
E não conhecer o amor próprio
E da sua força e revolta
Num salto, e queda livre
Em quatro segundos
30 anos de vida se vão
Pelo ralo das ilusões

VII - Síntese

E nas páginas de um jornal
Contemplei meu vazio
Meus sentimentos manipulados
Por alguém que por ele morreu
Bebendo até se perder
Se matando por não amar

Ass: Marcel Villalobo