I - Páginas de um jornal nunca lido
As palavras novas da manhã
Gravadas num jornal qualquer
Levado pela brisa do outono
Junto ao lado das ilusões
II - Solidão e saudades
Saudade é nada mais que solidão
Com companhia de alguém distante
As cartas que rasguei
Continham pedaços do meu coração
III - Manipulação
No alvorecer do novo dia
Perdido vendo TV
Vendendo minha alma ao diabo
Precocemente iludido
Entre a fumaça de um charuto
Que entra pela porta aberta
Junto do ar frio do inverno
IV - Memórias de alguém que morreu
Na página amarela de um diário
Existem contos grotescos
Assinados por alguém
Que perdeu a vida na guerra
Mas não perdeu sua alma por lutar
Perdeu apenas a vontade de viver
E de lutar pelo que é dos outros
V - O Bêbado
Solitário e triste, o bêbado
No frio de junho, embaixo da ponte
Bebendo para esquecer suas ilusões
Sua vida miserável de pedinte
Sua alma perdida numa garrafa de pinga
E toda a vida sofrida
Que ninguém sabe sequer especular sobre
VI - O suicídio daquele que nunca amou
Na janela do último andar do edifício
Um homem olha para baixo
E vê toda a sua vida por ali passando
A sua infância pobre e sofrida
Sua adolescência conturbada, regada a entorpecentes
E vê que jamais se tornou homem
Pois jamais conseguiu amar alguém
E jamais foi amado
Por nunca pensar em si mesmo
E não conhecer o amor próprio
E da sua força e revolta
Num salto, e queda livre
Em quatro segundos
30 anos de vida se vão
Pelo ralo das ilusões
VII - Síntese
E nas páginas de um jornal
Contemplei meu vazio
Meus sentimentos manipulados
Por alguém que por ele morreu
Bebendo até se perder
Se matando por não amar
Ass: Marcel Villalobo
Um comentário:
"E nas páginas de um jornal
Contemplei meu vazio
Meus sentimentos manipulados
Por alguém que por ele morreu
Bebendo até se perder
Se matando por não amar"
Cara, perfeito...
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