segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Poema n° 18: Contos e Síntese

I - Páginas de um jornal nunca lido

As palavras novas da manhã
Gravadas num jornal qualquer
Levado pela brisa do outono
Junto ao lado das ilusões

II - Solidão e saudades

Saudade é nada mais que solidão
Com companhia de alguém distante
As cartas que rasguei
Continham pedaços do meu coração

III - Manipulação

No alvorecer do novo dia
Perdido vendo TV
Vendendo minha alma ao diabo
Precocemente iludido
Entre a fumaça de um charuto
Que entra pela porta aberta
Junto do ar frio do inverno

IV - Memórias de alguém que morreu

Na página amarela de um diário
Existem contos grotescos
Assinados por alguém
Que perdeu a vida na guerra
Mas não perdeu sua alma por lutar
Perdeu apenas a vontade de viver
E de lutar pelo que é dos outros

V - O Bêbado

Solitário e triste, o bêbado
No frio de junho, embaixo da ponte
Bebendo para esquecer suas ilusões
Sua vida miserável de pedinte
Sua alma perdida numa garrafa de pinga
E toda a vida sofrida
Que ninguém sabe sequer especular sobre

VI - O suicídio daquele que nunca amou

Na janela do último andar do edifício
Um homem olha para baixo
E vê toda a sua vida por ali passando
A sua infância pobre e sofrida
Sua adolescência conturbada, regada a entorpecentes
E vê que jamais se tornou homem
Pois jamais conseguiu amar alguém
E jamais foi amado
Por nunca pensar em si mesmo
E não conhecer o amor próprio
E da sua força e revolta
Num salto, e queda livre
Em quatro segundos
30 anos de vida se vão
Pelo ralo das ilusões

VII - Síntese

E nas páginas de um jornal
Contemplei meu vazio
Meus sentimentos manipulados
Por alguém que por ele morreu
Bebendo até se perder
Se matando por não amar

Ass: Marcel Villalobo


Um comentário:

Kaio disse...

"E nas páginas de um jornal
Contemplei meu vazio
Meus sentimentos manipulados
Por alguém que por ele morreu
Bebendo até se perder
Se matando por não amar"

Cara, perfeito...